sábado, 25 de julho de 2009

Relatos de uma sobrevivente da cidade grande

Hoje à noite, Vila Isabel, berço do samba carioca. Família no carro, indo a uma festa de uma tia-avó, na rua do hospital Pasteur. Um ônibus, que vem fechando e cortando todos, pára no ponto - depois de reclamações e palavras de baixo calão da maior parte dos transeuntes e motoristas. Um tempo depois, uma senhora e um rapaz descem do mesmo ônibus, e alguns passageiros gritavam pro motorista abrir as portas rápido. A senhora, muito nervosa, desce correndo, pedindo pra chamar a polícia. Assalto no ônibus. Uns metros mais a frente, arrastão anunciado e maioria dos carros que iam pra direção da confusão manobrando pra tentar escapar. Resultado: rua entupida de gente - os carros que iam pra um lado queriam voltar pro outro. Os guardas não podiam chegar na viatura, correndo a pé pela calçada. Gente desesperada entrando no hospital, que, aliás, seria um ótimo esconderijo. Eu ia correr pro necrotério. Não haveria ninguém lá pra dizer que tinha gente escondida - pelo menos ninguém vivo. Mas vai que algum dos assaltantes era médium...
Agora, falando sério, a violência tá exasperada . Uns anos atrás, um cara dirigindo uma kombi quase bateu no carro da minha mãe no sinal. Ela reclamou, ele ameaçou metralhar o carro dela na próxima vez que o visse, não importasse quem estivesse lá dentro. Ela ligou pra polícia, e a atendente disse que não podia fazer nada: a polícia não lidava com casos de briga no trânsito. Uma amiga minha desenvolveu síndrome do pânico quando era pequena, porque morava em um dos bairros mais violentos do Rio de Janeiro.
Agora tá assim. Pisou no meu pé, pedi desculpas. Prezo demais, e não só a minha, mas a vida de todos aqueles ao meu redor pra ousar reclamar. Afinal, quem mandou pôr o pé ali, né? Agora imagina aqueles becos e entrâncias escuras das rodoviárias. Quantas pessoas não foram violentadas, assaltadas, espancadas naqueles lugares, enquanto tentavam apenas voltar pra casa? Quantos professores, garis, advogados, médicos, gente que tentava construir uma sociedade melhor já se foram numa dessas enrascadas? Eu mesma vi um cara me seguindo desde o cursinho quando eu tava voltando pra casa, um tempo atrás. Minha sorte foi achar um amigo no meio do caminho que me fez escolta. Quem sabe o que podia ter acontecido.

Pois é, e o Rio de Janeiro continua lindo

Ps.: Parabéns, tia-avó, pelos 82 anos! Não é fácil passar dos 30 nessas bandas...

Um comentário:

Rafael disse...

haaaa
mas quem liga pra violência se a novela das 9 continua passando na hora certa, né? issae né gente... esse povo legal, que é sempre otimista, vê sempre o lado bom... mas acho que seria importante ver que tem muita coisa ruim pra consertar, também...

enfim... pra esse povo alienado, violência é coisa de novela...

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